Uma vez senti falta de ti,
Perguntei a cada passarinho,
Aonde eu poderia entrar teu refúgio,
Mas vaguei sempre sozinho.
De cada flor aberta,
Eu murmurei teu nome baixinho,
As pétalas dessas flores com o meu passar
Iam-se fechando de mansinho.
Indaguei às nuvens que passavam pelo céu,
Gritei em vão pelas estradas vazias,
Segui todas as borboletas que pousavam nas flores,
Mas a eles tu também iludias.
Veio a tarde e interroguei a brisa,
Ela dissera-me que uma única vez te encontrara,
Mas que há muito que contigo não deparava.
Caiu a noite e as estrelas me mostraram
O caminho que poderias ter seguido;
Perguntei a cada pirilampo que reluzia na penumbra,
E me disseram que tinhas morrido.
Chorei copiosas lágrimas pungentes,
Mas o pranto não acalentou minhas mágoas,
Porém não poderia ser certo o que disseram os pirilampos,
E me ajoelhei à beira de um lago de reluzentes águas.
Ali as águas do lago liso sob o luar,
Refletiam a minha dor estampada em cada face,
Os olhos molhados e chorei melancólico
Esse nosso indesejável desenlace.
Gritei ao vento que soprava,
Nossas inúmeras promessas de amor eterno,
Embora desejasse a divindade do céu,
Essa tua ausência só me mostrava o inferno.
Desabou uma chuva fina, as flores se abriram,
E se refrescaram sob os pingos gelados,
A chuva lavou meu rosto, deu-me vigor, molhou meus cabelos,
E depois foi-se deixando meus pensamentos refrescados.
Precisei, na indecisão que me tolhia, pedir ajuda a Deus,
O “deus” dos desiludidos e dos solitários,
Ergui modestamente uma prece aos infindos horizontes,
E pedi uma aproximação aos seus distantes relicários.
Ano desconhecido: década de 70.