Insônia
A noite cai como que corpo abatido.
As horas desfalecem, mas não morrem,
e os nervos desfiam-se como novelo de lã.
Enche-se de presságios, de sombras da alma.
Gélido suor invade o semblante lívido.
O coração descompassa em taquicardias.
Longe de ser serena, a calma é artificial.
Um caos total escondido sob o tapete.
Em meio à amplitude, totalmente acuado.
Um punhal que ameaça o pescoço.
Um sorriso sem graça que nada quer.
E tudo por um débil delírio, uma ilusão.
Anseios perdidos em sonhos desfeitos.
E toda perda quer fingir ser enorme ganho.
E a covardia se oculta em falsa valentia.
E a mediocridade faz-se de genial tolice.
E o sono passa despercebido.
Visita os olhos, mas não descansa o cérebro.
Bombardeia com escombros do cotidiano.
Como assaltante noturno rouba a alma.
Os músculos não relaxam,
o coração não se desafoga.
A garganta não se alivia,
a alma não vive.
Insólito, o medo é o visitante,
alma penada a assombrar,
desafiando a loucura pela lucidez,
fazendo-se surdo o que não quer ouvir.
Enchendo-se de pesado silêncio,
fingindo ser possível a ilusão de felicidade.
Não querendo perder tempo em ser triste,
fechando os olhos e finalmente dormindo.