Adeus, Meu Grande Amor
Agora já é tarde demais
para tentar reunir palavras doces
e cheias de ternura.
Não há como recriar o encanto sutil
que era como que agradável brisa quente
nos primeiros dias.
No desgaste do cotidiano,
na satisfação dos desejos recíprocos,
descobrir que no fundo nada havia.
Sentindo-se enganado pelo coração
que insistirá em pulsar tão forte,
fazendo a ilusão parecer realidade.
Então doar o descaso
e receber em contrapartida o abandono,
o doce vinho tornou-se de acre sabor.
Ao intenso calor que parecia a tudo dominar
substitui-se por uma cortante brisa invernal.
Fosse uma bela peça de raro cristal
e restariam apenas os cacos,
resultantes de seu choque com o chão.
Que as agradáveis lembranças amenizem
de alguma forma
o lamentável estágio de deterioração.
É preciso dar tempo ao tempo,
mas não insistir em dar tempo
naquilo que o tempo já acabou.
Somente uma boa dose de razão
é capaz de dar direção
a sentimentos dominados pelos instintos.
Tolice querer alimentar os caprichos
da vaidade e do orgulho,
nisto existe insaciável fome de vazio.
Uma trilha que não leva a lugar algum.