VERSOS EM SANGUE AZUL

Fogem-me das mãos
versos que me são alheios...
subreptícios,
insuspeitos,
escapam, permanentes,
pelas fendas de tinta
que me rasga margens...

Fogem-me das mãos versos que nem sei
que sei dizer...

e me espantam de sangue
o papel virgem,
sangue azul,
sangue nobre,
vertido em símbolos
pela prosaica caneta que me serve
e que, sei,
tem alma própria,
índole livre,
vontade dela...

às vezes ela é a força que me impulsiona,
não eu a ela...

e os meus olhos,
de distraídos,
espantam-se em velas
de moinho, acesas
pelo vento
que passa por elas...