Abençoada seja
minha Cidade do Rio de Janeiro
e suas manhãs de sábado,
musicada pelo canto dos bem-te-vis
e pelo riso de teus boêmios,
que se recusam a aceitar o dia.
Abençoado seja
o Bairro de Santa Teresa
com suas ladeiras impiedosas,
seu parque de nuvens e sonhos,
erguido sobre passadas ruínas,
com um som de violão invadindo a alma,
em rondós, passacalhas e minuetos.
Abençoada seja
a feira que semanalmente brota à minha porta
com sua algaravia madrugadeira
seus pregões que o sono espanta,
suas cores, suas flores, alegria pra todos os lados,
que só finda com a hora da xepa,
quando multiplico meus poucos trocados.
Abençoados sejam
seus jogadores de cartas,
seus corredores matinais,
seus museus, úteros em permanente gestação,
seus moradores anônimos, em perpétuo sorriso,
seus ônibus refrigerados,
seus trens sempre no horário,
sua Mata Atlântica, no coração de tudo,
inclusive no meu,
seu amante de amor perdido.
Abençoada seja
a sua diversidade,
sua população de rua, alcoolizada e triste
seus travestis, insistindo na arte de iludir
seu poeta, em bronze, no banco da praia
esse amor, essa felicidade,
esse carinho com que me abraças
essa beleza esparramada
em que meu ser, em paz, flutua.