O Frasco

Publicado por: Gilberto Brandão Marcon
Data: 07/06/2009

Créditos

Texto: o Frasco Voz: Gilberto Brandão Marcon Edição: Amador Agradecimento: Gilberto Hoffmann Marcon
Copyright © 2009. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.
 
O Frasco 

A imagem de um frasco vazio.
Uma metáfora transformando-se
em substantivo.

O ar avançando para dentro de pulmões
que, passivamente, o recebe.

O sangue que mecanicamente circula
pelo corpo, inundando o aparelho cardíaco.

A falta de sentido,
a ausência de objetivo,
o cansaço estressado do cotidiano.

A multidão dos problemas,
as fugas paliativas,
 a aversão pela árida realidade.

A clausura compulsória,
a vontade nitidamente acuada,
a armadilha oculta.

O nervoso silêncio,
a imobilidade do corpo,
os fios de comunicação estão rompidos.

O frasco está vazio,
o límpido vidro transparente,
a sua ilusão de fascínio.

O seu falso brilho
talvez oculte a lembrança
do verdadeiro brilho de um olhar.

A força está frágil, 
músculos e nervos estão tensos,
os punhos querem agredir.

A razão tenta conter o impulso,
a moral enche-o
de vergonha e culpa,
tortura-se.

As horas são trucidadas
pelos ponteiros do relógio,
existe uma violência dissimulada.

Uma terrível agressão
que quer fazer-se de branda,
uma fervura que se finge morna.

Os dentes de cima
querem agredir os debaixo,
o corpo redesenha-se em inflexibilidade.

O frasco tem lá sua beleza,
mas está vazio. 
A própria alma parece estar vazia.

Tudo incomoda os sentidos,
cria-se uma irritabilidade intolerante,
perde-se a razão.

Quer ter a posse de algo
que de fato parece não existir.
Um desejo irrealizável,

uma perturbação
que insiste em permanecer
como que assombração psíquica,

gerando uma inquietação agressiva,
criando uma resposta,
uma justa vingança.

Determinando o estado defensivo
que acabará por alimentar
obstinado ataque.

Uma contundente agressão,
uma tentativa desesperada
de minar o opositor.

O inimigo misterioso
que não consegue encontrar,
criando algo de demência.

Um olhar extasiado e cheio de ira,
encontrando pela frente
o inofensivo frasco.

A vítima passiva
de um poderoso tapa,
sendo aniquilado
em infinitos cacos.

Gilberto Brandão Marcon
Enviado por Gilberto Brandão Marcon em 30/05/2009
Reeditado em 14/06/2009
Código do texto: T1623966
Classificação de conteúdo: seguro
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