DA TERRA E DO RIO

(Da Terra, que direi?... só amá-la eu sei!...)

Douro verde e meiga, que feitiço abrigas,
no manto tecido de afagos quentes
que o sol que namoras e por ti se rende
estende nos calços de videiras pródigas?...
Douro são teus seios de cachos nascidos
em bardos bordados no berço das vinhas,
com suor talhados a rendas e linhas
e paixão de homens a enxada sentidas!
Douro de vaidades ornadas de verde
baixando seus olhos no rio sereno,
mesmo quando o frio lh'aperta o Inverno,
certa da beleza que zela e não perde!
Douro de declives em forma de cálice
Onde o sol se toma, em néctar de deuses,
em brinde de honras e ritos corteses,
penhora de olhares em desejo cúmplice...


(Do rio, que contar?... só o sei amar!...)

Douro azul e ágil que buscas nas franjas
o calor do abraço e meigo remanso
das colinas doces que refectes manso,
quando o Sol se deita nos lençóis das granjas...
Douro são teus prantos de águas rebeldes
quando de paixão beijas doces pregas
do corpo de virgem prenhe de entregas
à mercê de ânsias do amante em sedes.
Douro são teus brilhos de fluídas gemas
em colar de enfeite de colo macio,
carícia enleante em leito de rio,
lavra perfumada de rima e poemas...
Douro que eu sorvo em tragos de êxtase
sempre que o ouro se funde nas águas,
vinho fino e sol, ourelas da Régua,
eterna beleza em infiel diástase...




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