"-Tera, onde era essa morada, Essa rua, essa calçada De que falas com amor? Será que essa rua existe Ou é a saudade triste Daquilo que não ficou? O teu cantar é bonito, O tom plangente é um grito De belas canções de amor, De Portugal do passado Que hoje vive afobado, Preocupado com a dor. Será que o tempo retorna Ou a saudade transforma As pedras lisas em flor? Minha linda poetisa, O teu canto me encantou!"
E, pra completar a epopeia Da rua da minha saudade, Vou só agradecer que creia No sêlo de autenticidade:
Essa morada mora Dentro do meu coração, Mas é calçada de Vida, Não duvidem disso, não! Atravessa uma aldeia Encostadinha às colinas, Bem de frente pro Marão E cercada de verdes vinhas. A subir nos leva ao céu, A descer nos leva à igreja, E a casa da minha infância, Como um rio, ela bordeja... Foi lá que aprendi a rir, Sei as pedrinhas de cor, E da minha janela vi Passar o meu primeiro amor. E ainda dá pra sentir (Mas só na minha saudade!), O aroma do caramelo, Quando a intensa actividade Das vindimas esbanjava Bagos preciosos no chão, E os carros de bois passavam, Conduzidos por fortes mãos, Faiscando chispas nas pedras E assobios no coração..."
(Figueira do Douro, concelho de Lamego, Portugal, é a morada da minha rua)