DOURO
Azul de cobalto líquido,
Mancebo chamado rio,
Douro de berço nascido
Criado em lençóis de brio...
Era de vinha seu reino,
Sua amada, a Terra fértil,
Seus filhos, cachos em treino,
De peleja ordeira e ágil.
Mas um dia a Amendoeira
Vestiu-se de branco e rendas,
Bordou-se de primavera,
Mirou nele as oferendas...
E o rio traíu a Terra,
Por paixão, jogou o reino,
Por amor, deixou a guerra,
Quedou-se, de olhar sereno...
No encanto, a amendoeira,
Ruborizou as flores brancas,
De enlevo, à sua beira,
Descalçou-se das tamancas...
Foi paixão de Primavera,
Breve amor de curto encanto,
E as lágrimas da amendoeira
Foram pérolas de pranto...
Pétalas a vagar no rio
Num lamento de ciúme
Da Terra em gamões de cio...
E o Douro esquece o queixume.
De verde e rico veludo
A vinha atrai seu amante,
A amendoeira vê tudo,
Resta-lhe o fruto abundante.
E a Natureza sorri,
Cumpre-se o ciclo da Vida,
Limita-se a fazer de júri...
"Sessão a ser dissolvida..."