Penúltimo soneto
Eu queria viver, apesar desta vida.
Sinto o sonho impotente em poder reagir.
O que mata de vez a minh'alma perdida
é que o hoje não vê amanhã no porvir.
Quando a morte me afaga e convida a segui-la,
oferece-me o colo e me tenta a aceitá-lo.
A vontade de mim quase cede e se oscila
e eu não penso, não sinto, não olho e não falo.
Minha força se esvai, já está perto do fim.
Já não há mais sentido em lutar e lutar.
Desmorono em pedaços ruindo de mim
e me espalho em resíduos que voam no ar.
Eu queria viver, apesar desta vida,
mas eu vou com a morte que afaga e convida.