Tempo de Ausências

Ausente de mim o grito que irrompe das pedras.

O grito que rompe as pedras

e convida ao voo. Ausente está.

Medo de voar nesta ausência sufocante.

A amplidão oprime. Falta um caminho

na infinitude de caminhos.

Inaudível. Procuro sons no silêncio.

Um eco que guie. Uma memória que vibre.

O grito. Impossível. Ausente. Onde.

Aonde voar sem o bater das asas,

onde reverberar nesta planície de vazio,

como ouvir o chamado do silêncio.

Cansado de guiar, de gritar. Ausente de mim

o grito. Não o encontro. Não encontro.

Cerro os olhos e busco um ombro.

Uma mão. Tateio o solo e busco passos.

Nunca passaram. Não por aqui. Ausência.

O passado não importa. Não mais.

E o futuro. Voar. Para onde não sei.

O convite é nada. O braço nada. Não sei.

Falta força. De pedra. Das pedras

emana esse mundo cru e denso e intenso

num silêncio imóvel e insípido.

Tudo contém. Mundo esse feito

de todas as possibilidades. E basta.

Basta-se. Basta-me. A voz não falta

a quem sabe escutar. O chamado. O grito.

Irrompe das pedras, imóvel, em silêncio,

o convite eterno e forte e inapelável

do tempo que simplesmente é.