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“Fui tanto pra você e hoje não nada sou”
(Roberto Carlos)
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Era uma vez uma senhora,
cuja promissória da dor foi o dinheiro ...
E o que ela fez só revigora
a vitória de algum amor verdadeiro...
Ela já estava era comprometida
com um coronel (literalmente,
um coronel) e lamentava da vida,
num escarcéu de uma patente...
Numa noite, enquanto o marido
dormia, ela telefonou para um poeta,
que lhe deu o encanto proferido
de uma poesia e extasiou a sua meta.
Há tempos, ela não ouvia
a voz daquele inspirado boêmio freqüentador
dos templos da bela poesia,
que havia lhe dado um belo prêmio de amor.
Ele entregou para aquela senhora
uma fantasia realizada na prática,
quando declamou pra ela, outrora,
uma poesia musicada e enfática.
Mesmo bastante apaixonada, ela abandonou
quem a fazia degustar um bom mel
(no tenesmo provocante da rima que musicou
a poesia) e foi morar com o coronel...
O dom do poeta não produzia riqueza materiais,
porém a fazia sentir um prazer sem igual,
com a predileta harmonia, de belezas sensuais,
da poesia a fluir de um poder sentimental.
Arrependida, por ter feito uma permuta infeliz,
aquela fugaz senhora do coronel disse ao calado poeta:
“És minha vida, não refuta quem sempre te quis...
Desfaz, agora, o escarcéu hierarquizado que me afeta.”.
Determinado, o poeta respondeu:
¬“Lamento, minha amiga. Tem paciência.
O meu legado, de fato, já se perdeu
no alento da cantiga da tua ausência...”.
E a infeliz senhora ficou em pranto,
sofrendo por ter perdido o amor verdadeiro,
num país onde vigora um desencanto
tremendo, pelo indevido louvor ao dinheiro.
Moral da história: quem se desfaz de um sentimento,
enriquecido pelos valores invisíveis,
ou prefere a material e fugaz vitória do fingimento,
tem sofrido uns dissabores terríveis...
Paulo Marcelo Braga
Belém, 28/02/2007
(23 horas e 56 minutos).