Heranças

Heranças

Passo longe do caminho que auguro,

Em terreno aberto, nada seguro,

Infestado de tudo quanto é estorvo,

Que leva à debandada do meu alento,

No palmilhar de uma estrada árida,

Uma luta inglória contra o vento.

O fustigar incessante das derrotas,

Enche as folhas, de letras amargas e tortas;

E o olhar segue o passo num trilho ausente,

Até que a primavera já não traga mais semente,

E o mundo limpe as minhas folhas,

Num acaso predestinado, desde sempre,

Ao qual fechei os olhos numa redoma colorida,

E hoje, pago no corpo, a vontade desmedida.

Alieno tudo, nada mais resta na minha mão,

Quem me encontra, encontra a solidão,

E um abraço farto de ilusão,

Talvez não seja mais eu,

E o longo azul que contemplo no céu,

É o único quadro que tenho,

Da herança do mundo de onde venho!

Nenúfar 19/12/2008