Busca febril

As palavras que penso ao definir-te

não refletem real definição;

todas elas rejeitam meu convite

por saberem que és mais do que elas são.

Ei-las míseras, reles: vãos fonemas;

quando muito, somente interjeições.

Adornando-as posso mil poemas

e garimpo outros tantos em Camões...

Mas nem eu e nem ele e nem Virgílio,

nem Demóstenes vamos definir-te:

devaneio que sejas meu idílio

ou além, muito além deste palpite:

Não te posso saber... e sigo em vão

nesta busca febril que me inquieta;

apascento minh’alma — ah! compaixão...

e sem verve amiúda-se o poeta.

Não te posso saber... e vêm e somem

as sonâncias alheias e quaisquer...

bem por isso os receios me consomem

e por vez renuncio tal mister:

se não pode o poeta possa o homem

porque um ama a musa; o outro, a mulher!

São Paulo, 6 de maio de 2008 – 22h22