A música de tom azul celeste

Meu silêncio fez-se som.

O mundo girava

e a luz do céu apagou-se

diante do brilho da Estrela.

Jardins de flores risonhas,

sentadas no campo,

em roda e ciranda.

As árvores... galhos e braços,

e passos e seiva e acorde e açúcar...

lá estavam elas.

O sol derretia-se sobre as vielas,

nas ruas desertas, anjos dançavam

envoltos em música de tom azul celeste.

O vento, em livre desapego,

roçava os troncos das árvores,

abraçava-lhes a cintura

e penteava suas folhas com a música,

a música de tom azul celeste.

Vinham eles, os anjos, com suas vestes de lua,

convidavam a lua para enluarar a manhã...

lá estava ela, doce e aguada,

suas lágrimas faziam cachoeira

com música de tom azul celeste

no alto da montanha.

E na montanha, lá estavam os silfos!

Desciam levemente com as brumas

para visitarem os mares.

Quantos mares de tom azul,

a música entrava pelas ondas,

profundamente tocando sua flauta,

profanamente convidando os homens.

Profanas faltas de rima,

ricas em cultos e adorações...

Pelos elementos e elementais

surgiam novos galhos e frutos...

Novas vidas e novos frutos,

para alimentar a terra,

para dar de beber a água;

Vinham os ventos,

carregando sua fome e pureza

nos cristais e jaspes da esfera.

Derretiam-se as nuvens e eu

espalhava-me como o ar,

cruzava a matéria como o calor,

conhecia o coração das montanhas,

o amor dos humanos

e as almas puras.

Pela janela jorrava música,

era de tom azul celeste,

como celeste era a água, afinal.

Do topo das árvores

escondiam-se as aves

no balançar das folhas,

que a tarde caía.

Do universo não seria retirado,

não fosse a impressão rosa,

vista de esguelha pelos lábios do poeta.