SAUDADE
Ela chega, de mansinho,
Paga tributo à penumbra,
Encosta-se, devagarinho,
Planta raízes na sombra...
Ela chega, beijo amargo,
Abraça-me como mãe triste,
Invade-me o lar e o âmago,
Prova-me que a dor existe...
Ela chega, toque meigo,
Bate à porta, sem esperar
Que o silêncio em que me deito
Se abra em flor de cortar...
Ela chega, e eu me parto,
Derramo lágrimas mornas,
No asilo do meu quarto
Conserto-me em suas formas...
Ela chega, de mansinho,
Aconchega-me os lençóis,
Traz dois cálices de vinho...
E eu provo que não há heróis.