Experimento a vida, olhos despertos
Na penumbra da palavra inominável
É parte do meu caminho também
Os verbos que não sei conjugar
As sílabas que tropeçam
Na pronúncia dos meus lábios
Pertence-me o instante ínfimo
Em que me oferto a intimidade
De compreender-me em desordem
Na escuridão que me impõe a luz
São meus os livros de histórias
Que nunca consegui escrever
O cicio de letras que jamais alinhei
E que me falam no arfar silencioso
Da página que me acena despedidas
São meus os diálogos inaudíveis
Quando me pronuncio em meu espelho
E as máscaras das minhas ilusões
Refletem-me em lágrimas
E mesmo assim não me perco do sonho
Permanece o urdir cotidiano da emoção
Tecendo os fios do meu olhar
Com cores melodiosas e de avalanches
É apenas minha a voragem do mergulho
O deambular indelével pela paisagem
Do desejo intocado, não dito
As marcas invisíveis, os delírios
O assombro do descobrir-me
Sabem-me apenas os meus silêncios
As vezes em que fugi
E sumi de mim mesma
O amaro e o doce do que não revelo
É somente minha e tão só minha
A febre imensa que lateja
Nas mãos que me ardem
Em versos, chagas, precipícios,
Suspiros, abismos e entrelinhas...
Fernanda Guimarães
www.fernandaguimaraes.com.br