TERRA DO SEMPRE

Plantei-me em Terra do Sempre,
Do sonho fiz-me semente,
Lavrei várzeas verdes, rios,
Senhora fui de baldios.
Rendei cores ao arco-íris
Pela maquia que eu quis,
Semeei grãos proibidos,
Doces frutos prometidos,
Colhi arcos de sol em risco,
Em tardes de são chuvisco...
Arranquei-me ervas daninhas,
Que macerei em dores minhas,
Ceifei braçadas de brilhos
Descobertas em estribilhos.
Guardei lágrimas de aguarelas
Num vaso feito de estrelas,
Escondi tudo com bruma
Da névoa feita a espuma...
Entreguei-me ao vogar manso
Do mar que toca um remanso,
Departi d'um porto a medo,
Dos remos fiz meu brinquedo,
Passei saudades em ruas
Que, como o rei, iam nuas.
Dei de comer à quimera,
Que mantenho sempre à espera...

Terra do Sempre, meu nicho,
Onde cedo a meu capricho
E bebo o sabor do vento,
O gosto fugaz do tempo,
O travo voraz...
do passatempo!

(Colo ou dolo?)