Ai de quem não alberga um ideal
e não sabe atear do fogo a chama
de quem da vida nada mais reclama
do que a mera verdade temporal
Ai de quem escorraça a utopia
esvaziando-se de vida aos poucos
dos que nunca foram chamados loucos
porque não deram azo à fantasia
Ai de quem não consegue ver estrelas
e em redor tudo o que vê é lama
de quem por baixo seu olhar derrama
e não aponta ao alto para vê-las
Ai de quem não consegue vislumbrar
a comédia escondida sob o drama
de quem nessa cegueira chora e brama
sofrendo as suas penas a dobrar
Bendito o que abraçando a utopia
ousar distribuir a sua luz
pois desse se dirá um certo dia
que mais leve tornou a nossa cruz
( In X Antologia da Associação Portuguesa de Poetas/ano 2002 )