De carro te ia buscar
Para irmos passear
Rumo a qualquer lugar
Assim que entravas no carro
O rádio metias a tocar!
A cantar e a brincar
Seguíamos para qualquer lugar
Cantavas com o som,
Que restou da voz que tinhas
Mas cantavas!
Ríamos da tristeza e da alegria…
Eu já não te compreendia…
E brincávamos ao jogo gestual!
Para adivinhar as palavras que já não dizias,
Com uma lágrima no olho e um sorriso no outro
Lá seguíamos contando os dias!
Mas havia uma tristeza imensa
Que te levava junto com a doença
O teu corpo se transformava
A cada dia que passava
Os teus músculos espasmavam
E a seguir paravam!
O que antes eram curvas graciosas,
Passaram a ser um deserto rugoso
Com tempestades de areia
Que te enchiam o corpo e a alma de poeira
Mas continuavas à procura
De um oásis que te saciasse a fome e a sede
E que te revigorasse e embelezasse
A alma, o corpo e a vida
Mas já nem fisioterapia
Nem força de vontade, nem esperança
Nem treta nenhuma,
Fazia parar essa E.L.A. odiunda
Foste um exemplo de coragem e de firmeza
Perante esta doença
Que te levava para outra viagem!
Resististe até mais não
Até que um dia
Deixaste de contar os dias
E já cansada, fechaste as mãos
E seguiste noutra direcção!
Deus te aguardava,
No Seu colo foste repousar!!!
Uma estrela lá te foi buscar…
E lá ficaste a morar,
Junto a outras estrelas
Lindas e queridas
Que agora nos estão a cuidar…
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Mem Martins, 28 de Fevereiro de 2008