A AUDÁCIA DO SILÊNCIO

A AUDÁCIA DO SILÊNCIO

Me faltam palavras, amor,

me sobra o verbo em flor,

o verso que deságua em teu nome,

o assombro de um coração que tome

teu olhar e, em segredo, me nomeie poeta.

Me falta voz,

me falta a coragem quieta

de dizer que o peito desata

em versos que te assinam,

que te cercam, que te inventam.

Toda rima é tua,

todo verso um fio de ternura

que te costura em meus dias.

E quando calo, é só temor,

que ouças demais o que não falo,

que leias o tremor das minhas mãos,

e as trilhas dos meus silêncios.

Não é que eu não saiba dizer,

é que te amo em excesso

e as palavras, ah, são poucas

para dizer o que sinto em verso.

Se as palavras te alcançar,

olha bem, ele é um disfarce,

um modo covarde de gritar

que até o silêncio sabe.