Olha a garoa fina (quase neve)
que faz estrias dúbias na janela;
pensa na sensação, enquanto escreve,
é nebuloso assim viver sem ela.
O frio, sabe, vai embora... em breve;
mas não a atroz saudade que o martela.
Suplica que, ao partir, o inverno a leve;
o vento ri, a dor mais se encastela.
Suporta, a muito custo, o fero trauma.
As lágrimas lhe sulcam cútis e alma,
à moda dos forcados no jardim.
O amanhã (como os sulcos) vê incerto...
fitando o céu, de nuvens encoberto,
indaga: "Deus, por que a levou de mim?!"
José Erato