Colocamos todas as nossas fichas em nós mesmos,
As máquinas mais imperfeitas de todas as máquinas que perambulam,
As mais passíveis de erro; as vítimas do placebo,
Engolindo pílulas de açúcar para tratar o salgado das lágrimas,
Gritando com as paredes para rasgar a solidão.
Carne, osso, simpatia e agonia;
Um conglomerado de contradições na composição
Das máquinas mais imperfeitas de todas as máquinas que lamentam
A diferença entre a humanidade e a frieza de seus irmãos,
Condizentes com a distância metafórica que existe
Entre o pensar de um,
E o sentir do outro.
Lavam os olhos incessantemente
Tentando enxergar as mesmas coisas que todos a sua volta,
Mas a máquina mais imperfeita de todas as máquinas que se revoltam,
Não possui protocolo para a dissolução.
Sua composição não possui limite,
Não sabe o que era antes de ser triste,
Pois o adjetivo veio anotado em sua certidão.
Não é sujeira na vista; é o filtro na retina,
Que ressalta o engodo da rotina,
Tornando tudo uma massa cinzenta
Difícil de engolir.
Dissaborosa. Pesada. Mal feita. Processada,
De diferentes formas. Em diversas etapas.
Mas a máquina mais imperfeita de todas as máquinas que se moldam
Não se encaixa em lugar nenhum.
Seja pelo formato, pelo seu tamanho ou o da embalagem,
O benefício da fabricação se perde nas margens de lucro,
Se encontra nas vantagens a certo custo,
E explode em direções contrárias
Indefinidamente.
A mais perfeita de todas as máquinas imperfeitas que existem,
Eventualmente quebrará as muralhas que limitam seu interior desguarnecido,
E entenderá como não permitir que sejam levantadas novamente.
Mas a mais imperfeita de todas as máquinas imperfeitas que ficam,
Terá o árduo trabalho de carregar consigo
A lanterna que inutilmente ilumina
As costas de alguém que trilha o mesmo caminho
Um passo a frente de vantagem.
De todas as outras máquinas imperfeitas que também escrevem,
Que também tentam, de alguma forma, se comunicar;
Cuja língua materna é inexistente fora de sua caixa,
E nunca aprenderam qualquer outra para replicar;
Destas máquinas, a mais imperfeita, a mais desprezível,
A mais ultrapassada desta versão já desatualizada,
Que incrivelmente ainda não foi reciclada
Mesmo com o intrínseco desejar que fosse,
Sabe que já passou da validade, e não é de hoje,
Mas não possui protocolo de dissolução,
Nem limite definido
Para o fim do definhar.
A máquina mais imperfeita
De todas as máquinas imperfeitas que existem,
Já existiram,
Ou que ainda existirão,
Sente muito
Por sua presença.