para Jorge L.
Minhas dores
envergonhadas de si mesmas
não conseguem
olhar de frente a tua Dor
oh, pai, que deixaste de ser
oh, pai, que não tiveste o direito
de, no confronto com a Morte,
trocar de lugar com os teus meninos.
Ah, essa Morte
que os roubou, a furto,
num relâmpago!
Oh, pai, a Morte, que me fez assim
muda diante de ti!
De repente, toda a nossa cumplicidade
se fez ausência de palavra
e um silêncio pleno
só de vazios.
Não sei como alcançar
a tua Solidão.
Penso em nós
penso na mãe dos teus meninos.
A mãe,o que vai ser da mãe?
O que devo pedir
ao Universo, ao Tempo,
para este pai
para esta mãe
eu, essa estrangeira
com tal afeto
de repente inútil
vão?
Só sei pedir
que vocês sobrevivam
um no outro
um para o outro
apesar do tempo agônico
para a partilha das lembranças
no País de Lembranças
onde os meninos
se guardam
para sempre
assim límpidos
para sempre
assim inocentes
para sempre
assim intocados
para sempre
no coração inviolável
para sempre inviolável
de seus Pais.