O Apócrifo das manhãs

Fala, senhor, sobre tudo o que a carne sente.

Fala sobre toda a beleza do universo incompreensível,

Imerso em estrelas reluzentes e das coisas invisíveis a todo olho.

Fala sobre tudo o que não foi visto, e que há de ser, e daquilo que se foi.

Ao raiar do sol, uma luz quente

Se arrastando pela abscissa impecável de tua forma.

Que não vai esconder a tenra delicadeza, da sua verdade.

Cheia de desejos usurpantes, simples solidão lunar.

E ao bailar, anjo meu, arrastava meu olhar

Como um prosélito fiel.

Você é toda luz, mãe de toda cor.

Estar perto de você é como um privilégio.

Vejo teu rosto, sinto em meu corpo

De perto teu fôlego.

Sem pesar, sem dor desatinar.

Num infinito reflexo irradiado, unigênita do meu amor.

Sem linguajar de paixão inútil, sem lisonjeio ao pobre fútil.

Sou cativo dos olhos teus,

azuis anis celeste,

do castanho claro que se desmonta em lúcida vertigem.

Triste perfeição,

eu amo você,

minha menina,

não é você?

O branco de minha retina?

O amor invencível que não se resigna?

No jardim secreto,

você bailava como anjo.

Enquanto eu lhe escrevia

versos de saudade.

O mundo era vazio

e sem nenhuma forma

e eu escutava seus passos

De cidade em cidade.

Toda criação se desbanda sob o sol.

Crescem as flores e nascem as manhãs.

Mas meu coração continua tão só.

Então me chame para andar,

Se o caminho ainda é lindo.

Quem é você?

Anjo agrado?

Que é tão bonita

como meu éden sagrado.