Sextante

Sextante

 

Estou 12 milhas

afora do continente

de onde a costa o olhar exclui,

em mar profundo

entre sair e voltar,

sem rosa de rumos,

direção de vento,

estrela Polar

nem motores ou velas

enquadrando o mar

em um oculto desígnio.

A Guarda Costeira,

intrépida e resoluta,

anda em oposta direção

à corrente sul, ad doc,

a me tolerar

empurrando a viração,

como em uma nau clandestina,

provisória ilha,

presumido baixel

cheirando a carvalho recém cortado

esmaltado pelo sal que nos cobre, mas não;

assim seria

quando se procura o marinheiro insensato

desviado da rota

se indo do mundo.

as linhas horizontais

dos varais de espuma,

dão 12 milhas, e não mais,

no zênite

aos que fogem da terra fria

perseguindo desgrenhadas ondas

e feixes de vento,

sobrevivendo a predadores,

animais sazonais,

em natureza de calma e fúria,

no mistério que revigora,

virado por completo

ao absoluto azul que tudo rodeia e aquieta

ali mergulhando o calor dos dedos

sem saber se o céu espelha o mar,

ou se o mar está o céu a espelhar;

estou a dentro,

concentrado no abismo,

encarcerado pela envergadura

dos braços, que nada mais podem,

estirados em quilha muscular

na vante dos vestígios riscados

na superfície líquida que se estende.

Na prática estou a 12 milhas,

talvez aquém, mas em teoria,

com pouca maquinaria,

não posso dizer

se diluído estou, no mesmo lugar.

 

 

Sérgio Flores de Campos. Livro Perplexos: Entre o Fundo e a Superfície.

https://youtube.com/@perplexos-lg3hu?feature=shared

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