Estou 12 milhas
afora do continente
de onde a costa o olhar exclui,
em mar profundo
entre sair e voltar,
sem rosa de rumos,
direção de vento,
estrela Polar
nem motores ou velas
enquadrando o mar
em um oculto desígnio.
A Guarda Costeira,
intrépida e resoluta,
anda em oposta direção
à corrente sul, ad doc,
a me tolerar
empurrando a viração,
como em uma nau clandestina,
provisória ilha,
presumido baixel
cheirando a carvalho recém cortado
esmaltado pelo sal que nos cobre, mas não;
assim seria
quando se procura o marinheiro insensato
desviado da rota
se indo do mundo.
as linhas horizontais
dos varais de espuma,
dão 12 milhas, e não mais,
no zênite
aos que fogem da terra fria
perseguindo desgrenhadas ondas
e feixes de vento,
sobrevivendo a predadores,
animais sazonais,
em natureza de calma e fúria,
no mistério que revigora,
virado por completo
ao absoluto azul que tudo rodeia e aquieta
ali mergulhando o calor dos dedos
sem saber se o céu espelha o mar,
ou se o mar está o céu a espelhar;
estou a dentro,
concentrado no abismo,
encarcerado pela envergadura
dos braços, que nada mais podem,
estirados em quilha muscular
na vante dos vestígios riscados
na superfície líquida que se estende.
Na prática estou a 12 milhas,
talvez aquém, mas em teoria,
com pouca maquinaria,
não posso dizer
se diluído estou, no mesmo lugar.
Sérgio Flores de Campos. Livro Perplexos: Entre o Fundo e a Superfície.
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