A chegada do gado

Publicado por: Maria do Carmo Fraga (Mariana Mendes)
Data: 28/07/2024
Classificação de conteúdo: seguro

Créditos

Autoria e locução: Maria do Carmo Fraga

A chegada do gado

(para lembrar Guimarães Rosa, que encarnou com toda arte a cultura e a

linguagem do sertão mineiro e brasileiro)

A Chegada do Gado

O silêncio da estrada

recebe os primeiros sinais

voz de boiadeiro

mugido de animais

Aos poucos

surge clara visão

no alto da serra

O gado vem vindo

se espraia no terreiro

e ali o ofício se encerra

Desta vez queria ser

João Guimarães Rosa

Para em verso e prosa contar

o sentimento da boiada

ao se ver num novo lar

O ritual de chegada

ocupa todo o espaço

e o cansaço da viagem

é agora louvação

sensação de acolhimento

Sede e fome não perdoam

Aos cavalos no esteio

afrouxamento do arreio

e o peso da carga se escoa

Depois banho farto no lombo,

água, milho na cuia

No corgo água fresquinha

pros bois e pros garrotes

E pros cavaleiros purinha

água de mina no pote

Só o roseano talento

narraria com destreza

as aventuras contadas

no reencontro à mesa

regado a café com quitanda

e um rosário de surpresas

Ida bastante aturdida

estrada desconhecida

pernoite arranchados

caminhos desencontrados

Vinda ainda mais sofrida

inexperiente ajudante

extravio, assovio, berrante

cavalo empacado,

gado cansado,

tempo fechado

e ninguém que benzesse chuva

Trovão, corisco, enchente

Nos perigos da travessia

aos santos de fé se pedia

Deus adiante e paz na guia

Não é nenhuma miragem

que às vezes a mente traz

São estórias de coragem

em detalhes relatadas

toda vez que o grupo chega

das longas viagens que faz

Maria do Carmo Fraga (Mariana Mendes)
Enviado por Maria do Carmo Fraga (Mariana Mendes) em 29/05/2021
Reeditado em 28/07/2024
Código do texto: T7267193
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