eu encontrei essa prostituta,
em um puteiro de São Paulo
ela era linda, única
como um felino
uma floresta
uma flor
decadente
ela tinha um riso honesto
e o charme agressivo
de um predador
parecia não se afetar
com todo o horror
daquela vida
eu sempre me sentava
na mesma mesa de canto
perto da porta de saída
bebia uma cerveja
e de lá
via ela no balcão
repousando, esperando...
girando em seu banquinho
bebendo vinho barato
e fumando um cigarro
mesmo sendo
tão cheia de esplendor
poucos homens conseguiam alugar
algumas horas de seu amor
ela era
a mais bela criatura
a mais bela das criaturas
que jamais vi igual
um dia, ela veio até minha mesa
se sentou e perguntou
coisas sobre mim
e porque nunca levei ela
pro quarto
e porque estava ali
e o que havia de errado
comigo
e eu
não soube responder
nenhuma dessas perguntas
Contudo,
ela parece ter se divertido
vendo eu tentar
com toda minha
estranheza
tempo depois
fiquei sabendo
que a mais bela criatura
havia morrido
doente
em algum leito desbotado
de uma UPA ou hospital vagabundo
esquecida
e desde então,
as noites nos puteiros
e ruas da cidade
não são mais as mesmas
elas não tem mais
aquela eletricidade
e eu não tenho mais razão
para me sentar lá
e esperar
por
você