AUGUSTIADO
Valdi Rangel
A juventude do teu corpo
Não passa de inutilidade
Esse vigor físico existente
Com cheiro de maternidade
Será apodrecido amanhã
Quando hoje, for mais tarde
Esse perfil atlético
Que aparenta ser incansável
É somente um momento
Que caminha lento para a passagem
Não te iluda diante do espelho
Não seja escravo dessa vaidade
A flor só é bela e útil
Quando o beija-flor lhe invade
Não pense no eterno
Não existe uma humana eternidade
Tudo tem prazo e época
O tempo comprova essa verdade
O Eu do anjo Augusto
Desenha com graveto
Na sombra deste arbusto
Rostos e mãos, almas e bustos
Pulmões cancerosos e murchos
Escarros de sangue vermelho
Colorindo o preto do luto
A sombra do tamarindo
Vagueia na noite estrelada
Rondando um corpo celeste no espaço
Desta UTI infectada
Cuspindo noticias lutuosas
De vidas que foram ceifadas
A dor oriunda da ingratidão
É a lama contaminada
Que escorre nesse chão
Ela exala podridão e odor
Ressuscitando os versos tristes
Da poesia que Augusto nos deixou
Uma homenagem ao poeta paraibano
Augusto dos Anjos!
Valdi Rangel