Desiludida de amar,
Fechei-me numa clausura.
Emparedei-me. Fugia.
Fui construindo uma ilha
Fingia que era liberta
Porque da praia mirava
O reverberar na água
Quando o sol nela deitava.
Sentia o ar que passava.
Escutava o mar que bramia
Ou então que murmurava
Em enleio me levava
Nas sendas da utopia
Esquecendo quanto tinha
Corpo humano onde habita
Centelha que necessita
Mais que ambrósia e poesia
Feminil corpo que anseia
Por carinho e fantasia
Que um príncipe venha ainda
Acordar-me com brandura
De cem sonos à deriva!
...
Exulto de novo agora
Minha carne e minha alma
São instrumentos de corda
Que os teus dedos harpejam
Teus lábios fontes de beijos
Tuas carícias delírios
E dos sonhos que florimos
Emanam novos poemas
Que já não são devaneios
Mas ternos, fundos anseios
No aperto de teus braços
Nos nossos doidos segredos
Ao ouvido murmurados...
Rejubila minha alma
Não mais sofre solitária
E minha ilha fulgura
De doce brilho e volúpia!