DESABAFO NORDESTINO

Valdir Rangel

Sou filho da esperança

Espero vingar a plantação

Que semeei na terra seca

No solo do meu sertão

Tenho paz no meu nome

Conforme a minha certidão

Sou cultura Sou nordeste

No meu cavalo de ilusão

Cavalo marinho me carrega

No recantos deste sertão

Tangendo tristezas na boiada

Nos bois-de-reis da região

Bumba-meu-boi as congadas

Os caboclinhos em animação

Os fiéis conduzindo a Santa

nos dias sagrados de procissão

Nas romarias de padim Ciço

Fazendo promessas e oração

E o meu nome é José

Antônio, Francisco, ou Sebastião

Sou filho dessa terra seca

Meu herói é Virgulino lampião

Tenho a força armazenada

Nos cactos do meu sertão

Meu palanque é a viola

Mas nunca fiz uma violação

Nos meus versos eu protesto

O desprezo desta nação

Que deixou o nordestino sozinho

Esperando a chuva cair no chão

Sou nordestino vigoroso

Tenho amor e humildade

Sou devoto de frei Damião

Nunca morei na cidade

Minha escola é o trabalho

A experiência é minha faculdade

Faço versos em cantorias

Sou adepto da cultura nordestina

Danço forró pé de serra

Tocado na sanfona e concertina

Danço xote bem agarradinho

Num salão com lâmparina

Sei aboiar o gado

Conduzindo pelas Caatingas

Uso o meu Gibão de couro

Faço repentes com as rimas

Meu chocolate é rapadura

A cachaça é minha vitamina

Sou poeta, sou vaqueiro

Nunca fiz Enem nem faculdade

Aprendi o que papai ensinou

Que para enfrentar a necessidade

É bastante ser corajoso

E ter sempre honestidade