Á deriva

Eu estive à deriva por muito

tempo, acreditando que as

ondas me levariam para longe

dos meus medos. Que acordaria

seguro, acordaria seco.

E enquanto me encontrava no

mar, sozinho, alguém apareceu.

Ofereceu ajuda e sua mão

estendeu. Eu demorei aceitar,

resisti, mas no final, cedi.

Então, nós estávamos no mesmo

barco, tentando entender um

pouco mais sobre as águas e

suas agitações, mapeando

oceanos e corações.

Eu percebi que fiquem bem,

depois de me acostumar com

um estado negativo, não sabia o

quanto podia ir além.

Agora a jornada virou diversão.

As tempestades traziam

emoção e nos agarramos

nos prazeres das palavras

enquanto buscávamos o

nosso próprio chão.

Mas havia algo que ignorei. Um

furo no casco o qual deixei de

lado pensando que não seria

nada mais que um atraso.

Engano meu. Isso trouxe o

colapso.

Mesmo não sendo um pescador,

ninguém acreditaria nas minhas

histórias de fracasso, tentando

fazer o máximo para que um

buraco não se tornasse o

motivo do nosso naufrágio.

Infelizmente, eu fora abandonado

e demorei perceber.

Depois disso, a compreensão

se acomodou, a tristeza

apareceu e o barco ancorou,

levando para baixo meu coração

afogado.

Pois é.

Eu estou à deriva por muito

tempo, acreditando que as

ondas vão me levar para longe

dos meus medos. Que vou

acordar seguro, que vou acordar

seco. Que vou acordar.