AUGUSTIADO

Rangel Marques

A juventude do teu corpo

Não passa de inutilidade

Esse vigor físico existente

Com cheiro de maternidade

Será apodrecido amanhã

Quando hoje, for mais tarde

Esse perfil atlético

Que aparenta ser incansável

É somente um momento

Que caminha lento para a passagem

Não te iluda diante do espelho

Não seja escravo dessa vaidade

A flor só é bela e útil

Quando o beija-flor lhe invade

Não pense no eterno

Não existe uma humana eternidade

Tudo tem prazo e época

O tempo comprova essa verdade

O Eu do anjo Augusto

Desenha com graveto

Na sombra deste arbusto

Rostos e mãos, almas e bustos

Pulmões cancerosos e murchos

Escarros de sangue vermelho

Colorindo o preto do luto

A sombra do tamarindo

Vagueia na noite estrelada

Rondando um corpo celeste no espaço

Desta UTI infectada

Cuspindo noticias lutuosas

De vidas que foram ceifadas

A dor oriunda da ingratidão

É a lama contaminada

Que escorre nesse chão

Ela exala podridão e odor

Ressuscitando os germes tristes

Da poesia que Augusto nos deixou

Uma homenagem ao poeta paraibano

Augusto dos Anjos!