Cissa de Oliveira
Não sei mais como era, Mariópolis,
a beleza das copas altas dos pinheiros,
as procissões sobre o pó fininho da madeira
e os anjos de verdade no altar da igreja.
Confesso: já não sei bem como era
o enamoramento que essas coisas me causavam
e no entanto é como se a cal branca
do esquecimento não pudesse, jamais,
recobrir esse tempo.
A despeito da cratera que a ausência faz,
eu ainda posso vislumbrar o Colégio
Nossa Senhora de Fátima:
a luz que incidia sobre a biblioteca calma,
era a mesma que inundava os corredores largos,
as escadarias, os jardins aguados no cair das tardes,
o papel-pedra amassado com cuidado,
no construir dos presépios a cada Natal,
e as portas que, aos meus olhos,
ampliavam os segredos da clausura.
Não sei por onde descansará o sino,
nem o que é feito do eco das badaladas
que anunciavam as aulas.
Abafado ficou o corre-corre das crianças no pátio,
o azul das saias comportadas, a alvura dos guarda-pós,
o misto de curiosidades no manuseio dos atlas
na antiga sala de Ciências,
e o saltitar interminável da menina que ia à frente,
nos desfiles de sete de setembro.
Confesso também que eu repenso, Mariópolis,
a tua terra perfumada a geadas alvas,
espaços preenchidos de silêncios
onde depois explodiam as cores,
o sabor das uvas, o sorrir das pessoas
e a planura das ruas.
Cissa de Oliveira
15.02.08
Este poema está publicado no jornal online "Gazeta Popular de Mariópolis - ed. 122 (Fev/março/2008).
http://www.canal8fm.com.br/Jornal/edicao122.pdf