Enquanto água
Fluida
Enquanto líquida vida
Enquanto escorre o medo
Ferida rompida
Ninguém consegue reter
Nem tampouco segurar
O que escapa e flui
Por entre o vão dos dedos
Então o segredo é navegar
É dar sem esperar
Receber nada em troca
É viver enquanto água
Que só vai pra frente
Só cai de cima
E que calma e plácida
Fervilhando e desbarrancando
Nesse rio desemboca pro mar
E não deixa de ser água
Mas se torna oceano
Me fiz de água
Só pra ser o choro nos meus olhos
E de aguar, desaguei em lágrimas
chorosas e tempestuosas
Água nublou o meu olhar
Enevoou o meu chorar
E de chorar, chorei
E chovia enquanto pranto
Que de chorar, molhei
Feito água em desencanto
Ao mesmo tempo que água
Me fiz de sede
Só pra saber o que se sente
Ao olhar o brilho do olho que tira vida de gente
Essa água que mata a sede
Mas não mata
Só sacia e faz que morreu, mas está lá
Feito água
Feito emboscada
Esperando pra pegar
Outro pássaro na rede
Ansiosa pra dessedentar
Ou então matar de sede
Enquanto água, fui sede
Depois fui mar
E senti o quebrar das ondas
Provei o gosto da espuma na areia
Me fiz de mar e ao mesmo tempo tubarão em coração do abismo
Mas de coração fechado
Me vesti de algas e de coral
Provei o gosto do sal
Achei ter gosto de mar
Mas não tinha gosto igual
O corpo feito de água
Coração feito de terra
A alma foi feita de ar
Não importa
Enquanto água
Evapora e vira nuvem
Se entrega em lágrimas quentes
Feito chuva que cai
E deságua de molhar.
14/06/2022
12:49hrs