Ainda assim: Deus.

Publicado por: Gilberto Brandão Marcon
Data: 07/03/2010

Créditos

Texto: Ainda Assim:Deus Autoria e Voz: Gilberto Brandão Marcon
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Ainda assim: Deus.
 
Por maior que seja nossa tristeza,
por mais profunda que seja nossa amargura,
Ainda assim, não nos cabe renegar a Deus.
Mesmo que a labuta do dia a dia nos mortifique a fé,
mesmo que as frustrações
desmobilizem a nossa esperança,

mesmo assim
é melhor acreditar
na possibilidade de justiça do Criador.

Que nossas afeições não sejam correspondidas,
que nossos amados nos reneguem,

que sintamos a dor da incompreensão,
que não tenhamos o consolo do reconhecimento,

mas que nunca percamos a crença
na possibilidade do infinito amor do Criador.

Que não consigamos compreender,
que nos rebelemos ante a vulnerabilidade do bem,

que julguemos ingênuos
os preceitos de uma sociedade superior,
imaginando ser delírio,

ainda assim
é melhor reconhecermos a própria ignorância,
o nosso limite de saber.

O que toma conhecimento de uma migalha de saber
reconhece antes a própria ignorância.

É justamente essa sensação de não saber
que é mola propulsora na busca pela verdade.

É a busca pela verdade que faz nascer a razão
que é a verdadeira mãe dos justos.

Estar na busca pela afeição divina
é o meio de transformação
do servo em filho de Deus.

O justo é o servo. O sábio é o filho.
E o sábio é aquele
que equilibrou a razão com a emoção.

Saibam, entretanto, que a justiça
só existe em função da misericórdia.

Não fosse assim estaríamos condenados
pelos pecados da nossa ignorância.

Somos escravos das vivências efêmeras
enquanto não ressuscitarmos para a eternidade.

São os espíritos esgotados dos instintos  
que almejam a liberdade das virtudes.

A questão é que os desejos de libertação,
antes da possibilidade efetiva,

são pensamento e emoção batizados pelo ideal,
mas só transformados pela realização.

Não é suficiente a idealização, não basta querer,
tem-se que realizar através da experiência.

Então concluo:
Deus é o todo,
e eu ínfima parte que me aproximo de nada.

Deus é o único Pai e eu sou filho
desgarrado pelo orgulho e vaidade.

Deus é o próprio amor em sua origem,
eu sou prisioneiro da impulsividade do ódio.

Deus é justiça viva através de sua lei,
eu sou aprendiz lutando contra minha cegueira.

Deus é o saber por ser a alma da verdade,
eu sou vontade em busca constante.

Deus é  paz por ser a alma do equilíbrio,
eu sou guerra por viver no caos do conflito.

Deus é o congregar gerando perfeita harmonia,
eu sou individualidade dissonante.

Deus é ilimitado
e eu sou limite lutando contra a impotência.

Deus é infinita beleza
e eu tento lapidar a minha restrita feiura.

Deus é a certeza de bem
e eu sou dúvida tentando adquirir suficiência.

Necessário é tentar entender Deus,
necessidade que luta com a impossibilidade.

Menos difícil ,talvez, seja senti-lo,
imaginá-lo como visitante
em nosso pródigo coração.

Descobri-lo na solidão de nossas dores,
sentir seu amparo e sua silenciosa consolação.

Tê-lo como divino remédio
que anestesia as mais profundas feridas da alma.

Tê-lo como oásis de águas benditas
que saneiam as dúvidas e a sede por justiça.

Reconhecendo toda minha falta de saber,
mas perseverando na esperança de entendimento.

Mergulhando o olhar
no romper das sagradas auroras,
enchendo-se de respeitoso silêncio,

Conversando pela oração que nasce no peito,
pela prece que ilumina os olhos umedecidos.

Sonhando com o dia
em que o velho servo reconhece a sua origem
e o seu destino de ser filho.

Gilberto Brandão Marcon
Enviado por Gilberto Brandão Marcon em 16/04/2009
Reeditado em 07/03/2010
Código do texto: T1542247
Classificação de conteúdo: seguro
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