Ainda que alguns queiram invalidar o mandamento de Deus, e para isso busquem argumentos em passagens bíblicas que não dizem o que pretendam que diga, as Escrituras, como revelação de Deus, nos arma e habilita a usar as armas não carnais e sim poderosas em Deus, para destruir fortalezas; destruindo os conselhos, e toda a altivez que se levanta contra o conhecimento de Deus, e levando cativo todo o entendimento à obediência de Cristo. II Co. 10:4 e 5.
Como já falamos ao discorrermos sobre uma das epístolas do apóstolo Paulo, há quem queira tornar velho os mandamentos da Lei de Deus, e se fundamente na escritura que diz “que o que está velho presto está de perecer”. E isso falando particularmente do primeiro concerto feito com o povo de Israel em Horebe, e que tinha a necessidade da observância de ordenanças de culto divino, conforme está na epístola aos Hebreus 8:13 e 9:1.
Mas o Espírito, que sabe todas as coisas, concedeu a João o que ele escreveu em sua primeira epístola, e que diz: Portanto, o que desde o princípio ouvistes, permaneça em vós. I Jo. 2:24, p.parte. E: Irmãos não vos escrevo mandamento novo, mas o mandamento antigo, que desde o princípio tivestes. Este mandamento antigo é a palavra que desde o princípio ouvistes. I Jo. 2:7. Se em vós permanecer o que desde o princípio ouvistes, permanecereis no Filho e no Pai. I Jo. 2:24, segunda e última parte.
Comparemos agora essa última citação de I Jo. 2:24, com esta outra: E aquele que guarda os seus mandamento nele está, e ele nele. I Jo. 3:24, primeira parte.
Como vimos, para estar no Pai e no Filho é preciso guardar os Mandamentos de Deus, enquanto que para permanecer no Filho e no Pai é necessário permanecer naquilo que desde o princípio ouvimos. Mas alguém poderia dizer: Mas a passagem fala “dele”, que entendemos ser o Pai. Mas é bom não esquecer que disse Jesus: Não crês que eu estou no Pai, e que o Pai está em mim? Jo. 14:10. Quem me vê a mim vê o Pai. Jo 14:9, terceira parte. Outra passagem bíblica reforça nossa argumentação. Aquela que diz: Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda esse é o que me ama; e aquele que me ama será amado de meu Pai, e eu o amarei, e me manifestarei a ele. Jo. 14:21.
Já temos falado sobejamente que o amor de Deus se traduz na guarda dos Seus Mandamentos. E é isso o de que trata o apóstolo João nas suas epístolas. Ainda que para alguns essas escrituras possam parecer obscuras, para os que estão na luz parece clara.
O apóstolo fala ali que aquele que ama a seu irmão está na luz, e nele não há escândalos. I Jo. 2:10. E em outra escritura diz o apostolo: Nisto sabemos que amamos os filhos de Deus, quando amamos a Deus guardando os seus Mandamentos. I Jo. 5:2.
Ora, já falamos também sobre o amor ao próximo dizendo que quem ama ao seu próximo cumpriu a lei. Mas sabemos que ninguém será salvo se tansomente guardar essa lei, pois pela lei nos vem o conhecimento do pecado. Por isso o apóstolo agora diz: Aquele que ama a seu irmão está na luz, e nele não há escândalo. Mas aquele que aborrece a seu irmão está em trevas, e anda em trevas, e não sabe para onde deva ir; porque as trevas lhe cegaram os olhos. I Jo. 2:10 e 11.
O mesmo apóstolo nos fala: Irmãos, não ameis de palavras, nem de língua, mas por obras e em verdade. I Jo. 3:18. E esse amor é explicitado pelo mesmo apóstolo, que diz: Quem pois tiver bens do mundo, e, vendo o seu irmão necessitado, lhe cerrar as suas entranhas, como estará nele o amor de Deus. I Jo. 3:17.
Observemos que, nada obstante a Escritura dizer que quem ama o próximo cumpre a lei, o apóstolo, inspiradamente, fala de um mandamento novo que é o amor fraternal. E diz que quem ama o seu irmão está na luz. Jo. 2:10.
Desse amor fraternal nos fala o apóstolo Tiago, veja: Meus irmãos, que aproveita se alguém disser que tem fé, e não tiver as obras? Porventura a fé pode salvá-lo? E, se o irmão ou a irmã estiverem nus, e tiverem falta de mantimento quotidiano, e algum de vós lhes disser: Ide em paz, aquentai-vos, e fartai-vos; e lhes não derdes as coisas necessárias para o corpo, que proveito virá daí? Tg. 2:14-16.
Ora, quando o apóstolo diz que quem ama o próximo cumpre a lei, não quer ele dizer que esse ato resume o cumprimento de toda a lei. Isso é uma figura de linguagem onde se toma o todo pela parte. Assim, quem ama o próximo cumpre a lei, mas a lei relativa ao próximo. Pois na Lei de Deus existe a parte que refere-se ao amor a ele propriamente dito, os quatro primeiros mandamentos do decálogo, e a parte que refere-se ao próximo, os seis restantes do decálogo. Por isso que disse Jesus que o primeiro e grande mandamento é amar a Deus sobre todas as coisas, e o segundo semelhante a este é amar ao próximo como a si mesmo. E acrescentou: desses dois mandamentos depende toda a lei e os profetas. Mt. 22:38-40.
Mas o apóstolo João discorre pormenorizadamente sobre o amor, e fala bem claramente sobre o amor fraternal, e não nos isenta da observância da Lei de Deus, e por isso diz: E nisto sabemos que O conhecemos: se guardamos os Seus Mandamentos. I Jo. 2:3. E diz mais: Aquele que conhece a Deus, ouve-nos; aquele que não é de Deus não nos ouve. I Jo. 4:6.
Nessa mesma epístola o apóstolo fala também como conhecer os filhos de Deus e os filhos do diabo, dizendo: Nisto são manifestos os filhos de Deus, e os filhos do diabo: Qualquer que não pratica a justiça, e não ama a seu irmão, não é de Deus. I Jo. 3:10.
Assim, vemos que não é suficiente amar o amor de não fazer mal ao irmão, mas de fazer-lhe bem, além de praticar a justiça, e cuja prática se traduz na guarda dos mandamentos. Diz o apóstolo quem pratica a justiça é justo como ele é justo. I Jo. 3:7. E essa justiça da qual fala o apóstolo, e que deve ser praticada, é a guarda dos mandamentos, pois diz a escritura que todos os Mandamentos do Senhor são a justiça. Sl. 119:172, ú.parte.
Além do mais o apóstolo fala nas duas coisas bem distintamente. No amor fraternal e no amor a Deus e ao próximo. E o amor fraternal deve ser tal que demos a vida pelos irmãos, veja:
Conhecemos a caridade nisto: que ele deu a sua vida por nós, e nós devemos dar a vida pelos irmãos. I Jo. 3:16.
Ao início, falamos que as armas da nossa milícia são poderosas para destruição das fortalezas; destruindo os conselhos, e toda a altivez que se levanta contra o conhecimento de Deus, e levando todo cativo ao entendimento, à obediência de Cristo. E estando pronto para vingar toda a desobediência, quando for cumprida a nossa obediência. II Co. 10:4-6. Sendo o conhecimento de Deus a guarda dos seus Mandamentos, a fortaleza que tem sido levantada contra o conhecimento de Deus, é contra os seus Mandamentos que se tem levantado.
E além do mais, não é somente o amor fraternal que é requerido para se ser filho de Deus, mas a prática da Justiça também.
Muitos têm falado sobre o amor. Falam no amor ”Ágape”, e usam esse vocábulo grego de um modo inchado. Tentam explicar de muitas maneiras o amor, atribuindo-lhe conceitos humanos, e dizendo ser um sentimento. Mas as Escrituras, sem nenhum floreio, mostra-nos, claramente, como traduz-se esse amor. Mostra-nos, também, como podemos demonstrar o nosso amor para com Deus e para com o próximo. Alguns, entretanto, têm buscado filosofias e argumentos ardilosos para fugir à regra estabelecida por Deus.
Mesmos os homens que conhecem a hermenêutica, a ciência da interpretação das escrituras antigas, que diz que as escrituras interpretam-se por elas mesmas, fogem a essa regra e discursam expeculativamente sobre um tema que, analisado concisamente, não nos permite chegar à outra conclusão senão a de que a Lei do Senhor, os Seus Mandamentos, estão em vigor.
Disse Jesus: Vinde a mim todos vós que estais cansados e sobrecarregados e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim que sou manso e humilde de coração, e encontrareis descanso para as vossas almas. Porque o meu fardo é leve e o meu jugo é suave. E disse que os fariseus sobrecarregavam os homens com fardos difíceis de carregar que eles nem com o dedo queriam tocar.
Ainda hoje acontece isso. Os judeus continuam a sobrecarregar os homens com fardos insuportáveis. Haja vista que eles continuam querendo impor as leis dadas por Moisés, e que nada aperfeiçoaram, as quais Cristo cravou na cruz, riscando a cédula que era contra nós, e que consistia em mandamentos de ordenanças, e serviram de aio, pedagogo, disciplinador ao Israel criança, imaturo.
Nada obstante, isso não nos isenta de tomarmos o jugo de Jesus, os Seus Mandamentos. Pois ele inspirou a Salomão, que escreveu: Filho meu, guarda os meus mandamentos e vive, e a minha lei como a menina dos teus olhos, ata-os aos teus dedos, escreve-os na tábua do teu coração. Pv. 7:2 e 3. Filho meu, guarda o mandamento de teu pai, e não deixes a lei de tua mãe. Ata-os perpetuamente ao teu coração, e pendura-os ao teu pescoço. Pv. 6:20 e 21.
Ora, o que é que se coloca sobre o pescoço? Não é jugo ou canga? Porque libertos do pecado fomos feitos servos da justiça. E os Mandamentos do Senhor não são pesados, e isso disse João inspirado pelo Espírito Santo, o qual foi prometido para nos guiar a toda a verdade, porque ele é o Espírito da Verdade, o Espírito de Cristo, que é A Verdade. Assim, os seus mandamentos são o seu jugo suave. Pois disse o salmista pelo Espírito Santo: A Lei do Senhor é perfeita e refrigera o espírito. Sl. 19:7.
A observância dos Mandamentos do Senhor tem a promessa dos bens presente e futuro. Diz a Escritura que goza de grande paz os que guardam os mandamentos de Deus, e neles não há tropeço. Sl. 119:165.
Como se não bastasse, o Espírito concedeu mais um reforço sobre o que significa o mandamento antigo do qual fala o apóstolo João em sua primeira epístola. E esse reforço está na segunda epístola do apóstolo, na qual diz: E a caridade é esta: que andeis segundo os seus Mandamentos. Este é o mandamento, como já desde o princípio ouvistes; que andeis nele. II Jo. 6.