A vida humana pode ser comparada a uma rosa no jardim do mundo. O bebê é o botão que desabrocha, delicadamente. Na medida em que vai se abrindo, vai descobrindo e se extasiando com o rocio do orvalho na madrugada de luz, o brilho do cristal ao toque do sol nas primeiras horas da manhã, o calor do astro rei na tarde quente. Quanto mais se abre para a vida, mais descobertas realiza. Corajosa, a criança não lê obstáculos nas linhas da vida. Tudo ela tenta, experimenta, apalpa e sente. Confiante, ela estende os braços a quem lhe oferece o colo. Perseverante, ela insiste nas tentativas sem se considerar derrotada pela latinha que não abre, o brinquedo que não roda, o boneco que teima em não ficar de pé. Nenhum obstáculo a detém: uma escadaria que parece não ter fim, uma porta fechada, um portão trancado. Estranhamente, à proporção que cresce, parece se esquecer desse seu lado brilhante. Nos primeiros anos escolares, pode se mostrar fechada às novidades e até apresentar baixo aproveitamento escolar. Mais tarde, já madura, exatamente como o botão totalmente aberto, os bloqueios se fazem maiores. Os percalços são considerados intransponíveis. Enquanto envelhece gradativamente, mais entraves se coloca: minha memória não é boa. Esqueço tudo. Estou ficando velho. Deixa de cogitar de aprender algo novo. Exatamente no período em que, de um modo geral, passa a ter um tanto mais de tempo livre. A aposentadoria chegou, os filhos se casam, as obrigações decrescem em número. Tudo o que se pensa em ter durante os anos da juventude, da madureza, agora se encontra à disposição: mais tempo. No entanto, esse tempo é gasto em ociosidade. E se há algo que realmente faz a pessoa envelhecer é a ociosidade, a inatividade, o não fazer nada. Enquanto a rosa no jardim vai perdendo o viço, murchando e despetalando, o homem se permite também fenecer. Mas tudo pode ser diferente. Nunca é tarde para aprender. Envelhecimento nada tem a ver com perda de memória. A não ser que a pessoa seja portadora de alguma enfermidade, que prejudique as funções mentais, as intelectuais, sempre é tempo de aprender. Absorver sabedoria dos livros, aprender a tocar um instrumento, exercitar-se numa nova língua. Tudo aquilo que não se teve tempo ou possibilidade de fazer antes, eis uma chance maravilhosa. Oscar Niemeyer, conhecido arquiteto brasileiro, quando alguém lhe perguntou certa vez sobre o que acharia da velhice, afirmou: “não vejo problema algum com minha idade. Nasci em 1907. Desde cedo dediquei-me a ver a poesia que vibra nas curvas das imagens, e não apenas nas linhas retas e tensas. Prossegui com afinco e dedicação, em busca de meu crescimento e hoje, com mais de 90 anos, posso afirmar que sou uma pessoa feliz. Ajudei as pessoas o quanto pude e aprendi a contemplar a natureza, de modo que todas essas coisas somadas, e muitas outras mais, me trazem a convicção da serenidade.” Um conhecido locutor da televisão afirmou recentemente, aos 70 anos de idade: “tenho um projeto ainda a realizar antes de morrer. Esse projeto deverá levar 14 anos para a sua concretização. É um projeto ousado, em que estarei utilizando a minha voz, que hoje se encontra mais encorpada, mais sonora do que jamais o foi. Eu espero que o bom Pai não me leve antes. Eu desejo concluir esse projeto antes de partir.” Isto é velhice abençoada. Isto é não murchar, embora o tempo já tenha desenhado seu mapa nas faces de quem ainda sabe sorrir para a vida, a cada amanhecer. Você sabia? Você sabia que foi aos 66 anos que Michelangelo concluiu o afresco “o juízo final”, na capela Sistina, em Roma? E que aos 77 anos o astronauta John Glenn voltou ao espaço, para mais uma viagem? E você sabia que envelhecer com dignidade é ter sempre em mente um projeto de vida para o dia que ainda não nasceu?