A crônica do crônico (Com àudio)
Você, a coisa crônica que adquiri ao acaso num caso de brincadeira, que passou à gentileza que gerou a paixão e anomalamente nasceu amor.
Você, aquele antigo desconhecido que se tornou um aparentado que recebo com pouca vontade em minha casa e por educação sirvo chá durante as tardes e vinho nas noites.
Aquele estranho que terei que desejar feliz natal todos os próximos anos da minha vida e mandar cartões de aniversários de tudo que inventarem.
Você, uma pedra que de tanto insistir nos meus calçados, moldou meu pés e ficou sendo necessário tanto quanto aquele batom do qual não abro mão nem para morrer. (Tão fútil e inútil tanto um como o outro).
Você que vem adoçando-me pela manhã e me envenenando a noite para que eu não durma em paz, viciando-me em pesadelos.
Você é meu número de azar que me dá uma sorte inesperada e assim sempre aposto nele pela chance do possível.
Você se tornou meu segundo nome, meu reflexo no espelho, minha sombra e minhas sobras espalhadas que reúno dia após dia.
Você, meu apêndice crônico,
a espera de ser extirpado cirúrgica e totalmente,
e há de ser.
Cássia Da Rovare
Nota - o apêndice aqui citado é apenas uma metáfora- não vou passar
por nenhuma cirurgia---hehehe. Já foi extirpado o que deveria ser.