AS PALAVRAS, GUARDO-AS NA ALMA...

Nunca fui muito de palavras à flor da língua. As minhas palavras tenho-as mais na ponta dos dedos, prontinhas a deslizarem pela caneta e se libertarem de mim, seguramente. É, acho que sou mais da palavra escrita, a palavra decantada, maturada na alma, subida a pulso. A oralidade atraiçoa-me, sempre foi assim. Sempre fui assim (ou pior): tímida de palavras imediatas, franzina de eloquências, enleada no discurso. Quem me conhece a conversa não me compra pelas palavras...

Mas na alma guardo tudo: os diálogos caros, o verbo escolhido, a definição fiel, a descrição precisa, o sentimento dissecado a letras, as emoções catalogadas, as palavras facetadas em perfeição. É o meu tesouro escondido, que amealho avaramente como gemas preciosas, o meu dote insuspeito.

(Ah!... mas como admiro as pessoas que têm o coração perto da boca e a resposta pronta!... Eu não, nunca fui assim! As minhas respostas perdem-se em labirintos profundos e saem-me em partos tardios, às vezes dolorosos, pela escrita...)

Mas o sentimento, esse, nunca perde a pureza e a espontaneidade. É apenas uma questão de timidez, esta tendência que as minhas palavras têm de subir por longas e tortuosas vias, como se no longo e demorado percurso pudessem ganhar forças para se exporem. Como se me corressem nas veias e pelo caminho acumulassem forças para finalmente se libertarem. Ou me oxigenassem o sangue de coragem.

As palavras, guardo-as na alma. Mesmo que a minha boca seque em sede delas, dos meus olhos vê-se um rio de verbalidade fértil...