Hoje, após uma aula de anatomia, estive a refletir...

Aquele frio cadáver, de expressão enigmática me causou um incômodo. Qual teria sido seu nome? Será que foi feliz? Amou? Foi amado? Quantos sonhos carregava consigo?

Mais ainda: sua expressão melancólica parecia me questionar. Sob aquele universo já sem vida, tantos outros já esquecidos. Ou talvez não? Quantos sorrisos, abraços, lágrimas?

Ao observar aquele que um dia, porventura, fora um universo pulsante, deitado sobre o frio aço inoxidável, me afronta timidamente diante do inexorável destino da vida.

E agora estou aqui a me perguntar:

Quanto vale?

Trocar minha paz, fingir alegria, forçar sorrisos, aceitar passivamente aquilo que outrora não aceitaria?

Contentar-me com menos do que mereço?

Quanto vale? Esperar a comida esfriar, esperar a ocasião certa para usar aquela louça que eu tanto sonhei em ter?

Quanto vale? Ter medo de sonhar, de não realizar, de fracassar no caminho? De não tentar? De não dizer um “EU TE AMO” ressonante por medo do eco?

De esperar a próxima chuva para dançar?

Quanto vale, morrer aos poucos a cada dia, covardemente, furtivamente, vivendo de migalhas, esperando a hora certa para tudo?

E, se? Eu pudesse fazer tudo diferente?

A chuva lá fora compõe essa sinfonia estranha de pensamentos que me remete à todas as vezes em que preferi ser triste a sorrir, a me curvar diante das dificuldades e a me recusar em ver o lado bom da vida. Nem todos os dias são de sol, como agora. E está tudo bem!

No final, apenas nós podemos fazer por nós mesmos o que os outros não podem, e geralmente não querem. Façamos dos dias de chuva, nosso gatilho para valorizar os dias de sol, e o contrário. É com a chuva que os campos florescem, a grama enverdece, e nossos jardins tomam vida e cores.