Pura amizade
Se no túnel das noites caladas
Das polares e vãs madrugadas
No sufoco dos ares mais crus
O ar livre soprar um perfume
E a aflição decolar vaga-lume
Coração palpitando de luz
É um sinal que afinal, de verdade,
Um instante de eternidade
Se anuncia no amanhecer
Um sinal por demais delicado
Do momento há tanto aguardado
Da mais pura amizade nascer
Se ao sol da manhã mais dourada
Ela vem como quem não quer nada
E pergunta querendo saber:
- Como vai? Tudo bem? Novidades?
Não se espante com a sinceridade
Que a verdade é o seu jeito de ser
Se no meio de um papo tranqüilo
Paciente ela ouvir tudo aquilo
Que já foi algum dia só seu
Cada sonho, suspiro, saudade,
Se você se sentir à vontade
É que a pura amizade nasceu
Se ela ensina e lá dentro se aceita
Que a florada mais linda e perfeita
É da flor e do floricultor
E que o Mestre chamava de amigos
Seus queridos alunos antigos
Pra melhor repartir seu amor
Que na casa da pura amizade
Com a porta aberta até tarde
Sempre tem bom lugar pra mais um
Se achegar “cum jeitim di cumpadi”
E entender um “cadim” da trindade
Que é três sem deixar de ser um
E se um deles se for pela estrada
Que seus passos, a cada pegada,
Multipliquem sementes-romãs
De onde brotem botões perfumados
Em jardins e pomares regados
Pelo orvalho das novas manhãs
Mesmo ao nó na garganta das almas
Se despeça o amigo com palmas
A mochila cheinha de bem
Bem querer tão benigno e visível
Tão tocante e tão inesquecível
Quanto o último abraço de alguém.
Wolô
wolo@mail.com