A PAPA-DEFUNTOS E O MORTO ATRASADO

(verídico)

Eu a conheci não faz muito tempo.

Vida tranqüila, solteira, ainda jovem, e a maior parte do seu tempo dedicado à família...pais, irmãos, cunhadas, sobrinhos, vizinhos...e demais agregados.

Uma tia amantíssima, dedicadíssima, como acredito não haver mais, nessa vida agitada de hoje em dia!

Profissional exemplar e amiga para todas as horas...

Naquela pequena cidade todos a conheciam, pois quando surgia um problema, fosse ele a que horas fosse, logo era acionada para resolve-lo.

Sempre muito animada, era “pau pra toda obra”.

Era conhecida como “papa defuntos”, porque todo velório da cidade, contava com o seu bom gosto, eficiência e praticidade.

Arrumava o falecido(a) como ninguém!-e ainda tratava de consolar a família.

Um ser realmente...admirável!

Mas na verdade, havia algo do qual ela não abria mão.Contou-me um dia estar muito chateada com tanto abuso...assim já era demais!

-Imagine você, que dia desses me chamaram na sexta a tarde, quase na hora do meu baile!

-Baile?-perguntei curiosa.

-Claro! Todos sabem que não perco meu baile das sextas, de jeito nenhum!Aliás, já avisei meus amigos:não morram nas sextas, caso contrário...não contem comigo!

Mas aconteceu que “ele”, seu “melhor” amigo, morreu...mas morreu dentro do combinado!

Uffa!-para o seu alívio e de todos, morreu na quinta, e o velório seria na sexta pela manhã.

Tudo certo, não fosse o seu celular tocando na sexta logo cedo:

-Alô? O quê? Vai atrasar o enterro? A que horas? Não é possível...e o meu baile?

Mas amigo é amigo! Não poderia faltar justo com ele, ainda mais naquela hora!

Então resolveu dentro da praticidade de sempre!

Foi ao baile, dançou até se acabar, deu uma saidinha só para encomendar o defunto, e voltou para o salão até o raiar do dia.

E a mim desabafou:

Você não acha que foi abuso...daquele meu amigo?

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