O Causo do Pêxe Inlético
Uai!... Num é qui ocês vortô mêz? Antão, sêje tudo bem-vindo! Pode chegá, pode se acomodá, qui a casa é dos amigo!
Má Rapái, tá iscuro, lá fora, né não?... A noite tá, qui inté parece um breu!
Isso me faz lembrá um causo, qui aconteceu cumigo, há uns ano atráiz, pru conta de um iscurão mais pió do que êsse! Foi nêsse dia qui eu pesquei, pela premêra vez, o tár do Pêxe Inlético! Cês já ôviu falá? Pois tem!
Cês prestenção, qui eu conto o causo procês!
E esse causo, eu quero dedicá pro meu cumpade, meu amigo Alexandre Ribeiro, lá de Santa Luzia, pirtin de Belzonte! Cumpade Ribêro é cantadô, cumpusitô, violêro! É dos mais talentoso qui eu já vi! Tá cum disco novo, qui é uma maravia!
Ó só o nome do disco: Vielas Líricas!
Antão, procês tudo e, ipeciarmente, pro meu Cupade Ribêro...
O Causo do Pêxe Inlético.
Seu Dotô, cê prestenção
Na istóra qui eu vô contá.
Hái quem diga qui é mintira,
Qui eu num posso prová.
Hái quem diga qui é inluzão,
Qui minha imaginação
Num véve sem inventá!
Eu cunhêço meu lugá,
Tenho minhas humirdade.
Pur isso num minto não,
Respeito a sinceridade.
Antonce, eu juro pro cê
Qui tudin qui eu vô dizê
É a mais pura verdade!
Foi no Córgo da Sodade,
Lá na Mata do Fundão,
Qui eu fui pescá um dia,
Numa certa ocasião.
Dessa vêiz, eu fui sozin
Pois cumpanhêro, pra mim,
Só serve, se fô dos bão!
Era mêi dia, um solão,
Qui chêga duía os ói.
Uma claridade branca,
Qui as treva tudo distrói.
Um calorão, eu suano,
Cheguei lá foi pedalano
Minha bicicreta Calói.
Cada um sabe onde dói
Seus calo, diz o ditado.
O calo pió, pra mim,
É pêxe arisco e safado,
Dêsses qui num bilisca,
Pru mió qui seje a isca
Qui o pescadô tenha usado.
Era justo nêsse istado
Qui tava a tal pescaria.
Quato hora de ispera!
Credo in cruiz, Ave Maria!
Os pêxe num biliscava,
E nem nas isca tocava,
Pió qui feitiçaria.
Nessa hora eu bem quiria
Vó Nacréta pá ajudá.
Mai nun tive essa coráge,
Nem num quis lhe incomodá.
Pois pisei na bola quéla
E num sabia a isparrela
Qui, se eu chamasse, ia dá!
Mudava, às vêiz, de lugá,
Móde vê se tinha jêito.
Trocava tomém de isca,
Mas os pêxe tava istrêito.
Antonce, aí, finarmente,
Meus ói fechô derrepente,
E bateu sono nos peito.
Sô pescadô e respeito
Minhas arte de pescá.
Eu nunca tinha drumido
Pescano, posso jurá.
Mai, nesse dia medonho,
Eu drumi de sonhá sonho,
E sem tê cuma ispricá.
Cumpade, no acordá,
Magina a situação:
Num tinha mai luz do dia,
Era tudo um iscurão!
O sol se tinha sumido
E eu, ali, aturdido,
Sem atiná cá razão!
Num era dinoite não!
Eu só drumi uma hora.
Intonce, cadê o sol?
A móde quê foi simbora?
Apois, ocê presta assunto,
Qui nóis já vai chegá junto
No finár de nossa istóra:
Eu percurei, sem demora,
Minha vara e meu anzó.
Quando eu achei a bichinha,
Tava pesada, qui só.
Eu falei: Eitha, danô-se,
Um trem grande aqui fisgô-se,
Seno assim, é mais mió!
Pra dexá de trololó,
Cumecei puxá o trem.
Puxa, arrasta, bota fôça,
Qui cum jêitin, êle invém.
E, no mêi da iscuridão,
Butei pra fora o pêxão
Qui, de quilo, tinha uns cem!
Os mêdo qui a gente tem
Do iscuro é coisa antiga.
O pêxe gimia tanto,
Que paricia cantiga.
Mai, no quente dessa hora,
Eu joguei os mêdo fora,
E fui partino pá briga.
Se era o Nun-Sei-Qui-Diga,
O Capirôto, ô o Cão,
Eu nun sei nem lhe dizê,
No mêi daquêle iscurão.
Mai juntei minhas corage
E me atraquei cá vizage,
Rolano quela no chão.
Puxei, antão, meu facão
Mode matá o istupô.
Na premêra facãozada,
O facão se alumiô!
O cabo virô uma luz
Bem dessas, qui, credincruz,
Tem nas casa dos Dotô!
Essa luz se inrradiô
Nessa mata, feitho um rái.
Eu pensei: Virge Maria!
É hôje qui a casa cai!
Mai quano eu vi o iscurão
Virado no tár clarão,
Eu falei: Agora vai!
Mi vála Deus, Adonai!
Padin Ciço, mi socorre!
Vô brigá mais êsse bicho,
Vamo vê quem é qui morre!
Pois pescadô qui é valente,
Seje pêxe, bicho, ô gente,
Cai brigano, mais num corre!
Num foi cachaça e nem porre,
Nem inluzão, nem mintira!
Briguei dois dia cum o pêxe
No garra, no fasta-e-vira!
E no finár, bem no fim,
Butei êle marradin,
Cum vinte quilo de imbira!
Meu facão, qui ninguém tira,
Fincado no tár pexâo,
Era mêrmo qui uma lâmpra,
Crariano a iscuridão.
Marrado na bicicreta,
Alumiô minha meta,
E eu vortêi, sarvo e são!
Carece de ispricação,
O que qui era o tár do trem.
Era o tár do Pêxe Inlético,
Quêsse povo diz qui tem.
Eu, qui num aquerditava,
Pesquei um, e agora tava
Aquerditano tomém!
Num vô negá pá ninguém
Qui eu tive mêdo, Dotô!
Mai num foi do pêxe não,
Foi quano o Sór se apagô.
Mai, dispôis, mi ispricáro
Quisso é um fenômio raro,
Foi Ecrípes, sim sinhô!
A quem num mi aquerditô,
Eu num tem jêito prá dá.
Só mi resta, nessa hora,
A êsse um cunvidá:
Vômm na Mata do Fundão,
Quem sabe um ôto pexão
Cê num consegue pescá?
Apois, eu já oví falá
Qui inzéste o tár do cético.
O cabra qui num aquerdita
Nas históra de um profético.
Esse vai dexá de sê,
No dia qui sucedê
De pescá um Pêxe Inlético!
Querdita não, Cumpade?... Uai... Antão, vai lá! Vai na Mata do Fundão, buscá o seu! Aí, ocê passa a aquerditá!
Eu quero dexá aqui o meu abraço de irmão, pro Meu Cumpade Ribêro, desejano a ele todo o sucesso do mundo, pro seu novo disco.
E quero tomém gardicê ocês tudo, qui tá sempre aqui cumigo, no Compadre Lemos Pontocom.
E óia, num isquece não! Amanhã, cês vórta! Mais vórta mêss, pruque amanhã tem mais!