As férias já estavam pela metade e como não havia nada que pudesse nos divertir naquele momento, a mim e aos meus irmãos, decidimos inventar uma competição sui-gêneris, onde os participantes: Pedro, Iuri e Fabinho, nossos sobrinhos e filhos, mais ou menos da mesma idade, entre 6 e 8 anos, iriam mijar na nossa frente, com direito a filmagem que seria guardada com muito cuidado para matá-los de vergonha na posteridade. Ganharia quem conseguisse mandar o seu mijo mais distante.
O prêmio foi estipulado em dez Cruzeiros, moeda que antecedeu o Real, e que para eles era uma verdadeira fortuna. Ele, o prêmio, seria entregue quando um deles provasse por A mais B que havia vencido aquela prova extenuante e nervosa, medindo a distância -se houvesse- sob os olhares atentos dos juízes que éramos nós, os tios e pais, e que, naturalmente, poderíamos não aceitar a vitória alegando uma bobagem qualquer que a desqualificasse, deixando o vencedor puto da vida e os perdedores pulando de alegria, dando início a uma nova competição que restabelecesse a justiça...
Os "perus" que se apresentaram, diante de uma platéia séria, compenetrada e sedenta de ótimas risadas, eram constituidos pelo corpo própriamente dito; cabeça ou uma micro-cabeça, além de uma sobra considerável de prepúcio, que, quando arregaçados mostravam a quase inexistência das ferramentas. Ficávamos então imaginando se haveria algum vencedor naquela competição que estava prestes a começar... Mas, afoitos em iniciar logo a brincadeira, nós, os organizadores, esquecemos -lamentavelmente- de um pequeno detalhe também chamado de combustível, sem o qual desejo algum de vencer poderia ser colocado em prática: A imprescindível água.
Rapidamente suprimos os "maratonistas" com litros e litros de água, enquanto aguardávamos, pacientemente, que o efeito se fizesse notar.
Porém, a ansiedade gritante entre os competidores, não deixava que fossem liberados os seus mijos com a desenvoltura que todos esperavam, principalmente eles, desejosos que estavam em botar as mãos naqueles dez cruzeiros para comprar um monte de quinquilharias e de sorvetes.
Parecendo três velhos com sérios problemas nas próstatas, faziam uma força descomunal, que avermelhava os seus rostos, não lhes saindo -infelizmente- uma gota sequer de seus microperus.
A platéia, que àquela altura do campeonato crescera consideravelmente, devido a propaganda boca a boca que era feita por aqueles que, cansados de esperar que o sagrado e desaparecido mijo surgisse, saiam para conversar e fazer o seu próprio xixizinho, trancados no banheiro. Liberar o mijo na frente de um batalhão de pessoas pode ser uma tortura para quem estiver com a bexiga cheia.
Quando finalmente aquele líquido precioso encontrou o seu leito natural, explodindo em jatos intermitentes nos peruzinhos dos garotos foi a glória total, e todos foram ovacionados como se tivessem descoberto a pólvora. Claro que demoramos muito para decidir quem seria o ganhador, obrigando os meninos a repetir várias vezes a façanha, até que, finalmente, resolvemos que acontecera um empate e que o prêmio seria repartido igualmente entre eles. Nem é preciso dizer que o verdadeiro ganhador não gostou nada da decisão, mas, sem alternativa, conformou-se com a sua parte que representava para ele um monte de dinheiro...
Essa história é totalmente amoral, além de ser politicamente incorreta, não havendo desculpa alguma que a justifique e que a torne menos sacana, mas, arrisco dizer -sabendo que serei criticado- que esse é o princípio do capitalismo: Competição. Não fomos nós que inventamos o capitalismo...