Tia Zezé era conhecida por todos dalí e de acolá...pelo seu humor.
Horrível. Hoje sei que tia Zezé era distímica. Uma doença da moda, mas que na sua época passou despercebida.
Era uma dessas pessoas que gostava de ser só. Tudo a incomodava.
O tempo, o clima, as crianças, as pessoas, os passarinhos, a chuva, o sol, os vizinhos, os sorrisos, marido então, nem correra o risco!
Tia Zezé ficara solteira. Por opção, e não dos homens! Era menos trabalhoso, explicava ela.
Mas todos se preocupavam com tia Zezé.
Por que? Porque vivia com dores. Muitas dores.Dores para tudo.
Dia de festa e tia Zezé estava lá, com dor no peito.
-Mãe, deve ser infarto, dizia eu.
-Não mnha filha, Tia Zezé é um touro! Tia Zezé viverá muito.
MAs eu era criança. Achava que as dores de tia Zezé, ainda mais a do peito, não devia ser coisa boa, não!
MAs sempre repetia aquele pensamento positivo..."Tia Zezé viverá muito".
Certo dia, tia Zezé que amaldiçoava as escadas...despencou duma delas até lá embaixo.
Agora não é possível! Tia Zezé´morreu! pensei eu.
Que nada, minha mãe estava certa.Afinal, tia Zezé viveria muito!
Foi um desastre...mas sobrviveu e reviveu rapidinho.Quebrou o fêmur direito e o punho esquerdo. Foi operada. Ficou esticada no aparelho ortopédico. Era triste de se ver tia Zezé ali, agora com toda razão do mundo para se queixar...e exercer sua distimia com propriedade!
Por fim tia Zezé tinha razão. Essa vida não é mole mesmo.
Mas se recuperou...mais azêda do que nunca, depois de espantar a todos! Ao ortopedista, às enfermeiras, ao fisioterapeuta.
E como ficou famosa naquele hospital!
Era a água, o lençol, o gosto do remédio, a comida, o sol da janela, a conversa ao lado do quarto.
-Ela tocou a campainha-constatava a enfermagem.
-Não se preocupe-dizia o médico-dona Zezé é um touro, e viverá muito.
Tia Zezé voltou a andar. E bem rapidinho.
Mas diz que prefere ficar sentada. Porque caminhar lhe dá tédio.
O tempo passou. Mas não para a tia Zezé. Que continua a mesma.
Muitos se foram.
Aliás,todos que correram para salvar a tia Zezé.
E tia Zezé...ainda vive!
Em homenagem às tantas tias Zezés que existem por aí...e que ainda vivem!