Podia apenas ficar por aqui, quieto, sem que as convulsões do mundo me afectassem e a loucura passasse ao largo de qualquer tipo de melancolia, acesso de raiva sem contemplação que apenas seriam objecto de afiada dor, eterna ausência, ou simplesmente iria para o fundo do mar, com os segundos contados até que a morte separasse a alma do corpo.
Conclusões pouco pacificas quando se trata de planear, ver o tempo passar e desencantar as malditas frustrações às quais tentamos, desesperadamente, fugir. Nasce em nós o tempo preciso para vivermos de forma a que a coerência seja mais que um mero artefacto, a realidade em estado puro, sem pudores, rancores ou inveja, porque nas partes invisíveis o tempo age com maior crueldade, sem que nos apercebamos que há actos indigentes, pura negligência visual. Haveria forma de normalizar as coisas, de enviar um sinal de boa vontade se por acaso decidíssemos começar a agir de outra forma? Era só o que faltava o ser humanos conseguir mudar aquilo que não tem mudança.
O tempo, a besta que passa incólume às necessidades egoístas de cada um. Ficam os actos, a profunda carga negativista que sempre se vai tentando incutir no próximo, quase sempre com sucesso. O conteúdo do tempo que passamos é quase sempre oco, e ele passa, trespassa a nossa suposta liberdade, rouba-nos a juventude e nós apenas ficamos a perder tempo com o que podíamos ter feito mas não fizemos. A vida é o presente, e o tempo nasce de nós!