Discurso de agradecimento ao prêmio Waldemar Lopes
Tremor
(soneto incidental)
Quisera eu tivesse o dom da voz,
a força da oração, pujante fala,
houvesse em mim a voz que não se abala,
eu não carregaria a dor atroz
da enorme timidez que o peito cala
e deixa os meus poemas órfãos, sós.
Não fosse eu o meu eterno algoz,
não titubearia nesta sala
e soltaria o verbo, a oração,
não tremeria em bases, como a vara,
e, assim, não temeria estar aqui
em frente a todos vós. Forte emoção
domina o meu semblante, a mente para
e, com tremor, eu leio o que escrevi.
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Senhores da mesa, plateia de amigos,
buscando mais força em meu interior,
agora eu vos falo com todo vigor,
tamanho é o empenho que trago comigo.
Não sou de oratória, por isso me abrigo
nos versos que agora apresento ao falar.
Não sei se seria o momento ou lugar,
mas fui convidado e aqui me apresento,
falando por todos, mas neste momento
reverenciando o imortal Waldemar.
Vivendo a infância em Novo Horizonte,
se fez sonetista e foi grande cultor
da métrica pura, de intenso primor,
e belos sonetos compôs. Foi a fonte
de muitos poetas – permitam que eu conte –
no seu Sabalopes, encontro invulgar
de que tive a honra de participar.
Naquela varanda, com calma e candura,
a todos ouvia, e a literatura
fluía nos sábados, próxima ao mar.
Mas literatura não é poesia
somente, e, por isso, também vencedor,
Flávio Henrique Albert Brayner foi merecedor
do prêmio de ensaio, com teologia,
que ele diz laica, e também eu diria,
pois ele venceu de uma forma exemplar,
e eu venho por isso o seu nome citar.
Já tem doravante o registro gravado
ao lado de outros que em tempo passado
também despontaram. Só veio somar.
Conosco está Paulo Santos de Oliveira,
que leva dois prêmios, senhores, pois viu
seu nome na literatura infantil,
citado no Prêmio Elita Ferreira,
e no Amaro Quintas também. Fez a feira
e talvez mais tivesse para ele levar.
Nesta Academia marcou seu lugar
mostrando a história do meu Pernambuco,
que eu amo, venero e por quem sou maluco,
fazendo estes versos, que eu tento domar.
Eu venho, porém, retomar a poesia
e citar outro prêmio, e louvar Edmir,
poeta de escol, e que aqui faz surgir
“desatada sangria” de Sônia Maria
] de Barros Marques. Esta Academia
nos rende homenagem. Que eu possa falar
no nome de todos: primeiro lugar,
mas menções honrosas também, todo mundo:
Albuquerque, Juarez César, Bruno, Raimundo,
Émerson, Rafael, represento ao chamar.
Permitam, no entanto, que eu venha outra vez
falar do poeta senhor do soneto
e render minhas loas. E eu me comprometo
seu nome elevar, no infinito, talvez,
pois Waldemar Lopes, com toda altivez,
foi simples, sincero, humano, exemplar.
Meu prêmio eu dedico a você, Waldemar,
porque sonetista eu me fiz conhecer.
A lágrima vem neste instante, por ter
seu prêmio ganhado e a emoção me tomar.
Amigos presentes, senhores da mesa,
desculpem a forma que eu dei à oração.
No verso em galope, agradeço a atenção.
Fui breve na fala mas sei, com certeza,
que os prêmios que aqui agradeço, em grandeza,
nos fazem mais fortes e vamos levar
aos pósteros toda a beleza sem par,
e toda a emoção do momento ultrapassa
a pompa dos prêmios. E eu, pleno de graça,
termino o galope na beira do mar.