O ser mais complexo e imprevisível de toda existência terrena chama-se: “homem”! Jamais podemos dizer que conhecemos alguém... Comumente, deixamos transparecer, apenas parte do que somos.
Em verdade, nem mesmo nós, nos conhecemos. Somos inclinados a agir segundo o que absorvemos, durante o nosso aprendizado, em convívio com a família, com a escola, e, de forma mais abrangente, com a sociedade.
Em suma, somos seres fabricados. Metaforicamente falando, somos como que, uma placa-mãe, virgem, sem dados, ou registro algum.
O que nos distancia do “animal selvagem” são os dados incutidos no nosso sistema, através dos anos. Nascemos naturais, os ensinamentos, regras, dogmas e conceitos, chips implantados, são imprescindíveis para à formação do ser humano e diferencial do animal irracional. Somos condicionados às reações, que não próprias.
Durante os primeiros anos das nossas vidas ouvimos, mais o advérbio NÃO, que a doce palavra MÃE.
Todos os ensinamentos, tudo quanto nos foi incutido... Abafou, transformou, o nosso verdadeiro eu. Nos momentos cruciais da nossa existência, nas intempéries que nos sobrevêm... Nos momentos inesperados e impactantes, ou diante de uma ação que se nos apresente contrária, ao que fomos moldados, reagimos de forma inexplicável, até mesmo para o nosso entendimento... E, falamos: “jamais pensei agir assim”...
Em verdade, “Flores postas na cratera de um vulcão, permanecerão flores, até o momento da erupção.”
A nossa reação diante do que nos vem de encontro é o que pode haver de mais natural em cada um de nós isso, por ser espontânea, não moldada, segundo princípios: éticos, morais, religiosos, etc.. A ação explosiva e inesperada que flui do nosso eu é a parte desconhecida, abafada. Passado o momento bombástico, retratamo-nos e dizemos: Eu não sou assim...
Quem poderá afirmar, categoricamente: “Eu não sou assim”! Ou, ainda: “Eu não agiria assim”!?
Nem todos sabem lidar, com tudo quanto lhes foi calado..., amortecido. Houve ruptura de sentires, dilacerações no nosso ego, houve extravio de identidade, que se transformou em lacuna, em cratera espiritual. Sabemos que, para toda regra há exceção..., dessa forma, muitos são propensos a serem moldados, adequando-se facilmente às “imposições”, outros, porém, acumulam tudo quanto lhes foi calado, até o momento do seu ápice de tolerância, quando então explodem, como que “panelas de pressão”, ou vulcões dantes adormecidos. Essa explosão de sentires, até então desconhecidas, causam-nos perplexidade.
A pouco, o mundo ficou estarrecido com a tragédia causada pelo copiloto da Airbus A-320 – companhia aérea alemã –, Andreas Lubitz, que segundo informações teria programado o mecanismo de descida do avião, enquanto estava só, na cabine. Essa ação estarrecedora, suicida e homicida, pois o seu ato insano ceifou mais de uma centena de vidas, deixou-nos abismados, chocados. O seu ato transformou-se em um assassinato em massa. Diante de tal atrocidade... Surgiu a indagação: Por quê?
Sabemos da divulgação, através da mídia escrita e televisada, que Andreas Lubitz passara, por momentos depressivos... Voltando à metáfora inicial, a “placa-mãe”, do jovem copiloto havia apresentado sinais de mau contato... (quadro depressivo).
Resta-nos saber: A quem responsabilizar pelo aval, que o copiloto recebeu para voltar à profissão, após o diagnóstico médico, concernente ao seu quadro depressivo...? Vale salientar, que pessoas portadoras de desvios comportamentais, comumente, apresentam-se calmas são analisadas e diagnosticadas, como “normais”, até o momento de exaurirem as suas crateras.
Em suma, quem somos nós? Do que somos capazes? Certamente, que respostas coerentes e precisas, quanto a esses questionamentos são difíceis de serem obtidas.
Crônica em áudio: Desejo de me encontrar EstherRogessi Recife, 29/03/2015.