DOS AMORES... DO CORAÇÃO...

NA MANHÃ DE 10 DE MARÇO DE 2014

(...)

O primeiro amor passou.

O segundo amor passou.

O terceiro amor passou.

Mas o coração continua.

(...)

Do poema “Consolo na Praia” de Carlos Drummond de Andrade

Acabo de louvar a três amores ao longo das minhas décadas, nos meus três textos mais recentes “A um pássaro distante”, “O velho comandante a seus marujos” e “Seu único conto de amor”; então, ocorreram-me os versos de Drummond, que cito, mais a pergunta:

Pois bem, Drummond. E agora?

Você, Drummond, me olha... olha... olha...

Há resposta possível, Drummond?

Não há não, Drummond. Sei que não há, mesmo. Pelo menos neste agora.

O coração continua. Eis tudo. O grande músculo do qual nos depende a vida.

O mais... vai-se levando...vai-se tocando...

Seja como for, de tudo resta um pouco, como bem você o diz em outro de seus poemas.

Os deveres da lealdade, por exemplo, e até esses, em certas circunstâncias, batem-se entre si. Há outros mais; permito-me, agora, citar apenas este.

Na íntegra o poema CONSOLO NA PRAIA, de DRUMMOND:

Vamos, não chores.

A infância está perdida.

A mocidade está perdida.

Mas a vida não se perdeu.

O primeiro amor passou.

O segundo amor passou.

O terceiro amor passou.

Mas o coração continua.

Perdeste o melhor amigo.

Não tentaste qualquer viagem.

Não possuis carro, navio, terra.

Mas tens um cão.

Algumas palavras duras,

em voz mansa, te golpearam.

Nunca, nunca cicatrizam.

Mas, e o humour?

A injustiça não se resolve.

À sombra do mundo errado

murmuraste um protesto tímido.

Mas virão outros.

Tudo somado, devias

precipitar-te, de vez, nas águas.

Estás nu na areia, no vento...

Dorme, meu filho.

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